No dia 19 de abril aconteceu o minicurso “Os Caminhos das Águas” ministrado pelo professor pesquisador Alexandre Pessoa (FIOCRUZ), no campus Ciências Agrárias-UNIVASF, para os bolsistas participantes do projeto de extensão PROÁGUA Rural. Com intuito de estabelecer um diálogo e o domínio das ações dos eixos estruturantes, o professor apresentou as reflexões sobre o planejamento das atividades e os desafios encontrados no percurso do programa SUSTENTAR rural. Visto que o programa tem como objetivo implementar matrizes tecnológicas capazes de atender a diferentes contextos e realidades presentes no território do saneamento rural no Brasil, que ocorre por meio da conceituação das soluções tecnológicas, sendo discutido também como acontece a concepção da relação que conecta a gestão e a presença da participação social no trabalho.
Para Alexandre, os bolsistas devem se atentar que os territórios são compostos por particularidades que requerem planejamento, sensibilidade e atenção para performance das ações, refletindo a identidade de cada comunidade e as abordagens apropriadas às tecnologias determinadas pelos modelos de gestão e à adequação da população quanto às soluções aplicadas. Logo, o planejamento e as estratégias de ações devem ser movidos pelos “Caminhos das Águas”, pois o modo como se pensa a água está relacionado a produção e reprodução da vida da população no território que habita, assim como a sua diversidade sociocultural, econômica, o seu modo de trabalho e a utilização de recursos naturais diante as próprias demandas. Fatores que pensam no uso da água como um motor para o manejo das ações que envolvem a convivência comunitária, assim como os impactos provocados pelo controle de qualidade, refletem a diversidade da utilização que a água tem ao atravessar a vida dos indivíduos. Tal reflexão é visível desde o consumo próprio como para criação de animais, como aponta o professor Alexandre Pessoa em aula, articulando essa metodologia a partir do reconhecimento da utilização de águas residuárias e resíduos sólidos e os impactos provocados pelas águas pluviais.
Os Caminhos das águas definem e aproxima a tecnologia ao contexto cultural das populações, reconhecendo as particularidades pertencentes ao modo de vida das famílias e das comunidades. Além disso, buscando que estas se apropriem das técnicas, por meio da implementação das medidas estruturantes como: suporte técnico, político e gerencial que promovem a sustentabilidade da prestação dos serviços, assim como as medidas estruturais que são localizadas nos investimentos em obras que ampliam o acesso e a qualidade do saneamento rural. Alexandre Pessoa parte da discussão que como agentes promotores das ações, os bolsistas devem pensar nas diferenças entre acessibilidade e acesso, reconhecendo através da metodologia de trabalho as barreiras que cada território contemplado possui. Ademais, ele cita que também que identificar a diversidade do semiárido que serão executadas as intervenções das ações estruturantes são de extrema valia, visando a superação das barreiras para a universalização do acesso ao direito humano, determinada pelas diretrizes do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), cuja elaboração foi determinada na Lei nº 11.445/2007.
Durante o minicurso o professor Alexandre Pessoa promove o pensamento pedagógico de que a “água educa” e a “água tem memória”, para pensar no percurso do trabalho com o semiárido e em como a água envolve os indivíduos como um bem universal, seja pela lembrança capturada através do trajeto que a fez chegar até o uso diário da população, demonstrando os problemas anteriores que há na localidade. Os bolsistas devem pensar que a água passa por vários caminhos, até o acesso da população, pensando a partir dos caminhos das águas a forma que aquelas águas foram contaminadas e/ou como afetam a vegetação, assim como a produtividade daquele território. Os caminhos das águas têm uma análise espaço-temporal-funcional, apresenta o professor, pois a água deve ser vista a partir da sua história, da sua geografia e das suas mudanças. Além disso, esses percursos devem ser identificados para a construção do trabalho, partindo da informação coletada pela própria comunidade, ouvindo e refletindo, como também construindo relatórios a partir do conhecimento e reconhecimento coletado em campo. Segundo o professor Alexandre, teremos como resultado a efetivação das ações estratégicas, fortalecendo o trabalho de promoção do saneamento rural.
Os “Caminhos das Águas” entende que o “acesso” é como a água sai da torneira e participa do cotidiano, sendo um direito humano chegar a todos, mas que no movimento de chegada o seu processo é maior e as demandas de serviço dependem de uma investigação habilitada no manejo de qualidade. Sendo identificado a partir dos caminhos das águas os agravantes que impossibilitam a acessibilidade técnica do saneamento rural. O minicurso busca preparar os bolsistas e coordenadores do projeto a pensar na atividade em campo, através da Tecnologia, da Gestão de serviços, da Educação em Saúde Ambiental como um processo de democratização da participação social na construção da equidade, da integralidade e da intersetorialidade que a sustentabilidade rural deve proporcionar.